"você acredita em médico?! não! vai por mim, põe uma roupa bem bonita, entorna uns gorós de cachaça e vai lá se vingar dessa pessoa sim. agora!"

quarta-feira, 31 de março de 2010

sobre a realidade

Ele indagou aos Deuses:

Qual a melhor coisa que poderia acontecer ao homem?

-A melhor coisa seria nunca ter nascido.

Uhn...nesse caso, qual a segunda melhor coisa?

- Morrer o mais rápido possível.

{ ainda bem que ainda temos as ilusões...}

Sinalofagia

Queria poder engolir palavras saciar-me com vogais encher o estômago de consoantes abarrotar-me de sentido para de novo e de novo ter abundância na boca, engasgar engasgar. Quero evocar a ira divina por meu pecado de conhecimento, sem resignação, ser presa de Tártaro. Não quero a expurgação, quero açoite e correntes, prender-me às minhas veias de sentido inchadas e pulsantes, fortificadas a cada devorar. Perder-me por dentro, sim, abismar-me em mim. Quero cometer outro pecado. Alcançar o meu eu desconhecido a cada instante. Quero juntar-me para sempre e sempre.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Nathalie Granger




_ (...)

_ (...)

quinta-feira, 25 de março de 2010

Dust

Temos a morte em nós, ininterrupta, de variáveis facetas, e, ao contrário do que muitos pensam, nem sempre oculta aos sentidos. Mas prever o momento exato da passagem ou torná-la inteligível é como olhar, pela fresta, o Caos. Mesmo assim, humanos que somos, tentamos lograr os desígnios da negação, rascunhando compulsivamente o que deverá ser a versão final. Por otimismo ou busca de controle, ignoramos - tornamos esquecimento - a matéria na qual nos transformaremos quando cessar o movimento contíguo entre corpo e espírito.


quarta-feira, 24 de março de 2010

Parte II

A primeira delas, a mais linda, chamava-se Cloe. Mulher das pernas mais desejáveis de toda a extensão Universitária, literalmente! Não havia uma alma sequer, em demonstração de masculinidade, a negar o prazer da exaltação perante aquele balançar de coxas à mostra em vestidos curtos ou shorts nada formais, cruzando as vastidões do campus de mesuras sem fim em dias ensolarados ou chuvosos – é próprio dos extremos prolongar a sensação tempo-espaço - e esses dias eram, sem dúvida, os de maior regozijo. A cena do cruzamento aos olhos do espectador assemelhava-se àqueles filmes do Bergman ou da Duras em que se quer produzir a sensação de suspensão temporal, ou então àqueles clássicos nacionais ambientados no Nordeste, de cor amarelada, ar denso composto de fumaça seca donde nenhum vestígio de água é leve o suficiente para elevar-se, e somente aquela gota de suor condensado, em apelativo close, correndo pelos poros dum pobre miserável, prestes a precipitar-se no maciço de um solo em brasas é capaz de realizar o único movimento possível, e a mosca solitária a zunir em seu ouvido, o único som.


Pensando bem, acho que superestimei a analogia, tanto que, se me decide por agora retirar-lhe o tom poético (com toda certeza não vislumbrado por nenhuma das mentes presentes, por falta de tempo, estorvamento ou inépcia), chegaria numa adequação mais real às condições. Portanto, em função do que me fora ensinado anos a fio em metodologia, retiro e chego à conclusão exata de que assistir aquela cena era como ver um personagem sedento em um comercial de cerveja, ou um ex-presidiário de segurança máxima em liberdade, pela primeira vez, em 30 anos. Deriva daí também a nova perspectiva quanto à reação dos machotes à cotidiana passagem (passada) da nossa Afrodite humanizada. Da veneração ao mero comportamento de massa. Um olha absorto o objeto de desejo em destaque – as pernas – e dá de lado a fazer um comentário (apertando devidamente do testículo direito), do tipo: “essa mulé é uma puta duma gostosa!”; revelada a maior novidade do dia, a cena tende a ser reprisada por quase todos os presentes do mesmo sexo.


Que fique bem claro, eu sou simples espectadora de um fato e estava a exercer a minha função imposta: observar o comportamento humano, de preferência, alheio. È lógico, pois de modo algum me atreveria a analisar minhas próprias reações, primeiro porque seria tendencioso, antiético (o sarcasmo aqui não foi intencional, ou foi?), segundo porque ainda não possuo conhecimento suficiente para me entender, de longe, sou a minha pior paciente. Mas de uma coisa estou certa, não compartilhava do mal que afligia os homens ao se depararem com as imponências de Cloe. Contudo, atesto ser incapaz em definir o que sentia.
Opressão? É, talvez em alguma parte. Desde a adolescência fui tomada por complexos que me fizeram dissociar a beleza da inteligência, a exibição dela, então, para mim, era como a nudez da alma. Não se trata de um puritanismo recalacado, não, eu simplesmente classifico (sim,classifico!) pessoas sem mistérios um tanto quanto desinteressantes. Decerto que já me dei por muitos falsos enigmas por puro deslumbre, porém nunca foi o suficiente para esquecer-me de meus vícios. De qualquer forma, existia algo em Cloe, ali, à mostra, a me tomar como tola. Sentia que dela havia um ocultado, um esquecimento, talvez, e era ele a me intrigar a cada passada, a cada balançar de coxas.

segunda-feira, 15 de março de 2010

dança no chapisco



- valsa ou tango?

- deixe que o vento dê o tom.



what's about the question mark

- Eu não tenho mais perguntas, o que faço agora?

- Você acabou de fazer uma.

- Não, eu só quero saber, o que se faz quando não as temos mais?

- Bom, quando não há mais perguntas, deve-se afirmar.

- Eu não tenho mais perguntas, o que faço agora.

sábado, 13 de março de 2010

sexta-feira, 12 de março de 2010

Parte I

Assim começou, como tudo, do nada.

E eram três, depois quatro, enfim, cinco...Cinco amigos - por certo, quatro paixões - calculo, cinco sonhos, um sem-número de problemas - problemas ou questionamentos, a decisão vai depender da referência que se faça, e a fazendo, digo, eram problemáticos, mas dissolviam os temíveis estereótipos do ser por prazer, função, ou essência, questionando os problemas e problematizando os questionamentos. E para não fugir à regra de toda trama banal, havia um segredo ou uma incógnita - na verdade, essa classificação também dependeria do referencial, mas não o tenho para dar, ao menos não agora...todavia, em adianto na incerteza, digo ser essa interrogação-de-si-mesma constituinte do ponto de tensão a entrelaçar essa história ordinária, podendo ela dissolver o paradigma que a respalda como banalidade, destruindo a si mesma, revelando o quanto há de farsa em seus personagens, em seus ditos, interditos, em suas intenções.

A verdade a libertaria! Não. Isso soou por demais profético, e nada aqui é santo, no entanto, sendo partidária do mistério, creio que este, seguindo-se assim, possibilitará a emersão da mediocridade ao mergulho na marginalidade!...acho que criei um paradoxo.

Enfim, após essa breve reflexão (sarcasmo), após esse pequeno solilóquio (adequado), sinto-me moralmente impelida a reescrever a frase de abertura - que deveria ser impactante - como está clara a falha no meu intento, restrinjo-me a ser verdadeira.

E, como do nada, nada vem:

Assim começou, como tudo, de uma invenção.