"você acredita em médico?! não! vai por mim, põe uma roupa bem bonita, entorna uns gorós de cachaça e vai lá se vingar dessa pessoa sim. agora!"

quarta-feira, 30 de junho de 2010

de olhos fechados


Redes suspensas no ar
[A cidade morta se tornou turquesa]
Como trapézios espectro solar.
Em plano distante, ponteavam vida arranha-céus
Onde nenhuma pomba branca atreveu pousar,
Pois vinham acocorados Macunaíma e o gato miado
Do ventre há pouco libertados.
O jeito pueril de garra afiada marcava-lhe as costas
Mas seguia engatinhando com cautela as estrelas da abóboda,
Controlando os passos do tropeço derradeiro.
Quem diria, aquela altura
Que Macunaíma e o gato gardariam o salto.


au revoir

















 
"Un Ennui, désolé par les cruels espoirs,
Crois encore à l'adieu suprême des mouchoirs!"
                                                      
                                                Mallarmé 


quinta-feira, 24 de junho de 2010

in between signs

- Am I deaf?

- What was the last thing you remember hearing?

- My conscience.

- Perhaps you're just deaf to the outside.

- That would be so sad.

- Otherwise, you're just scared to the risk of the sound or you're just waiting.

- For what?

- Waiting to meet the other silence.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

quando os astros conspiram


- Ótimo! Então, essa semana eu vou marcar um encontro com A.

- Esquece, vocês nunca se encontrarão.

- Por quê?

- Por que é signo de ar, e o seu ascendente em peixes é muito temperado, não dá certo! Tais são as possibilidades - trágicas - se  insistir em colocar a idéia em prática:

- a) Você, com essa memória de 3 segundos ou esquecerá do horário marcado e chegará atrasada ou esquecerá do encontro mesmo.

- Esquecer do encontro não. Isso nunca me ocorreu; quer dizer, exceto uma...continue, por favor.

- b) Vocês marcarem  nalgum lugar e simplesmente esperarem em locais distintos. Um achando que o outro deu bolo ou foi embora por cansaço da espera. Só que, esse é o fato mais interessante, nenhum dos dois dá o braço a torcer e liga para saber do ocorrido. Você voltará enraivecida para casa, enquanto A. dará pitaco pela rua, ligará para uma amiga chamando-a para sair, etc...

- c) Há também a possibilidade nada remota de o propósito do encontro não ser entendido pelo ser aéreo e vice versa, caso o convite fosse feito a você; como nenhum dos dois sabe lidar com essa situação, acabaria tudo elas sem elas, um zero a zero bem feio e embaraçoso. Por ai, vai...

- Nossa. Meu sol em capricórnio odeia admitir isso, mas você está certíssima. Quanto te devo?

- Por isso? Nada. Considere filantropia ou simples conselho de amiga; mas se você não tiver nada para fazer hoje à noite, eu  poderia te ensinar astrologia... 

segunda-feira, 14 de junho de 2010

por que o dicionário...

é tão pouco prático? Por que não aproveitaram a mudança ortográfica e fizeram logo uma versão igual a bíblia cristã? já que são tão similares em tamanho, e pretendem dizer "o que é",  se complementaria a semelhança com uns marcadores de letras ao lado para facilitar o achado. Assim, evitaria a entoação do alfabeto inteiro para lembrar que "porífero" começa com a letra "p", que, por sua vez ...(a, b, c, d, e, f, g, h, i, j, l, m, n), é posterior a vogal "o" (esqueci do k de novo), e anterior a consoante... (l, m, n, o, p) "q".

Claro que esse formato novo não deveria, de maneira nenhuma, ser padronizado, se assim fosse, as competições de agilidade intelectual modalidade "ache o significado primeiro" acabariam, e seria uma lástima.  

Outra incoerência que poderia ser corrigida é a peregrinação por várias palavras em busca de um único significado; por que não colocar logo as devidas referências entre parênteses, tais quais as notas dos tradutores da editora martin claret, de forma menos impessoal?!

exemplo:

eremita - > rf1. ermitão (esse, seu idiota, é rf2. aquele que cuida de uma ermida; tá, o néscio rf3. que não sabe, ignorante, faz a mínima  idéia do que é uma ermida, não é mesmo?! então, vos digo rf4. capela fora do povoado, igrejinha.)

Satisfeito, léxico rf5. conjunto de palavras usadas numa língua restrito?!

sábado, 12 de junho de 2010

pagando a conta, dissolvendo o superego e abrindo parênteses

- Hoje é dia dos namorados...ai, que saco, odeio essas datas forçadas, mercadológicas. Esse mundo é tão fake, emoções fakes...queria sumir, melhor, queria que todos tivessem um péssimo dia. Por falar nisso, vai fazer o quê?

- Eu vou pro baile...procurar o meu negão. E beber, também, lógico.

- Cruzes! Não acredito, que decadência. Logo você?!

- Aham...sou cachorrona mesmo, e late que eu vou passar!

- Incrível, não consegue falar sério nunca?

- Tá bom. Você é chata! Só não consigo me decidir se estar sozinha é causa ou consequência de você parecer aquelas velhas despeitadas e mal comidas.

- Nossa, quanta baixaria e estupidez.

- Ah, e só consegue reparar obviedades.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

o caso de P. Garcia ( parte I)

"I hurt myself today, to see if i still feel,
I focus on the pain, the only thing thats real, 
The needle tears a hole, the old familiar sting,
try to kill it all away, but I remember everything"  
 
Se ele pudesse, escreveria isso. Das pontas dos seus dedos se desenhariam essas formas, nada mais. Nada mais do que se passara naquela noite, naquela única noite.
Começaria assim, rasgando o papel com o seu nome trêmulo L., e saberia ser essa,  apesar de pequena, a forma mais difícil de alcançar. Sua sinuosidade desafiaria as mãos torturadas pelo frio daquele inverno, mas lhe daria o sangue que faltava. Aqueceria lentamente a mão direita naquelas curvas a marcar todas as outras páginas de seu "caderno de reminiscências, poemas e pequenas citações", como se quisessem permanecer em todas as palavras que ele escrevesse daquele momento em diante.
                                                              
Assim seria, se não fosse. Uma única noite. Uma eterna espera.
Daquele quarto nunca mais sairia. Guardava uns pacotes de cigarro no armário e se satisfazia ao saber que fumava pouco o suficiente para não ter de comprá-los tão em breve, junto deles estavam uma garrafa de vodka inteira e outra pela metade. Sabia ser esse vício não tão brando quanto o outro, portanto, brevemente teria de comprar mais, contudo, deixara a preocupação sobre o método  de aquisição  para  a hora chegada – já que, até o momento,  não havia “disk vodka”, e no passar de horas não inventariam um; mesmo se o fizessem, não teria como saber.
No banheiro, previamente checado, estavam todos os suprimentos necessários. Da comida já havia se encarregado, caso viesse alguma reclamação natural de seu corpo, coisa que raramente acontecia, pediria pelo telefone a alguma “in box” de comida chinesa, que seria levada pelo entregador até a porta de seu quarto. Os moradores do primeiro andar do sobrado – um casal de velhinhos muito simpáticos, fariam a gentileza de abrir o portão e indicar as escadas que davam de pronto a sua habitação. Muito cuidadoso, ele disfarçara o possível estranhamento perante a reclusão com uma doença contagiosa gravíssima, quase letal, se contraída por pessoas da terceira idade. Com esse subterfúgio, garantia a distância do casal e o tornava ainda mais prestativo por condolência, pois o jovem demonstrava importar-se com sua saúde.
Parecia perturbado em sua espera, mas, de alguma forma, justo na nova condição. Preenchia suas horas lendo “o homem sem qualidades”, as quase mil e quinhentas páginas aliviavam qualquer ânsia de nada, tendo em vista a sua sempre minuciosa e lenta leitura de tudo; escutava alguns cds por dia - há pouco, embora tardiamente, descobrira a coleção “American” do Johnny Cash, emocionava-se bestialmente com cada música, não unicamente pelas canções, mas pela voz sofrida que aquele senhor empunha.
Quando cansava a vista, deitava de olhos cerrados se transportando a duas noites anteriores, quando acontecera. A bem da verdade, não precisava fechá-los para lembrar de nada, o quarto estava exatamente como então, mas a ilusão do trans o fazia mergulhar num plano sinestésico onde os lençóis tomavam corpo, além de ainda exalarem o cheiro, era como se o tempo voltasse e a matéria fosse irrelevante ao sentir. Experimentava seus pés aquecendo exatamente como quando os colocou em perfeito encaixe embaixo das pernas, o seu corpo contorcer com os dedos que deslizavam espinha acima, caindo sobre a nuca, e a boca que levava consigo algumas palavras sussurradas ao ouvido e faziam descer-lhe o sangue.  Era real demais. Dessa vez, a voluptuosidade do trans  descerraram cruelmente seus olhos, deixando penosa a sua expressão frente à imagem da cama desfeita. Algum sentimento de raiva o tomara nesse momento, mesmo sem entender o porquê - afinal, o problema se resolveria com o tempo, o encontro. Ele se levantou à procura da garrafa de vodka, bebeu calado. Aquilo passava.
Quarto dia.
Acordara pouco disposto, tateou a mesinha de cabeceira, pegou o maço de cigarros e o isqueiro, como não encontrou nada com o formato de um cinzeiro, bateu as cinzas no chão. Não era de seu feitio tal desleixo, mas o seu íntimo parecia não  importar.  Decidiu olhar a mesinha para conferir,  realmente estava ali,  junto do cinzeiro também estavam dois copos, um ainda com algum líquido preto - provavelmente café -,  lembrou do garçom simpático, tanto quanto desajeitado, que conhecera e com quem conversava todos os dias no seu almoço. De súbito, sentiu fome, seria essa a primeira vez que pediria comida. Não tinha desejo de falar com ninguém...recordou a infância e todas as táticas anti-dispêndio de energia que inventavam as crianças, à essa época achava que seria engenheiro, também achava que seria biólogo. Levantou-se, não era nenhuma invenção original, nem ao menos era uma invenção, simplesmente pegou um cabo pouco grosso para poder amarrar um peso de papel junto com um pequeno envelope, abriu a janela – era noite, reparou que era sempre noite, jogou o rabicho. O estilhaçar do peso chamou atenção da senhora que morava abaixo, como intentava. No envelope havia um bilhete, dizia: “Dona Sônia, desculpe se causei susto, pedi comida pelo telefone. O dinheiro está aí, dê a gorjeta, fique com o troco e amarre a comida no cabo, por favor.”
A senhora não entendeu porque ele preferiu isso a ligar para ela, de qualquer forma, relevou, e se dispôs ao pedido.
Enquanto esperava, colocou The Man Comes Around para tocar.

terça-feira, 8 de junho de 2010

mora na filosofia

- Você acredita que, além de contestar a todos,  Sócrates em situações comuns - no meio de um jantar, ou limite, não importava o lugar, se ausentava do corpo e passava horas, madrugadas, estático, tentando concluir um pensamento?

- Ele foi um grande loser pensador!


- O maior! Inacreditável que o tenham executado.

- Bastante...essa humanidade selvagem e ignorante! Se eu estivese na Ágora no momento do julgamento gritaria MATA, mata logo, não deixa ele falar mais nada, mata me lamentaria muito.

sábado, 5 de junho de 2010

sexta-feira

- não adianta, não é mesmo?! hoje em dia tudo é passageiro.
- é o que parece.
- você segue o ritmo?
- efêmero?
- é! como diria o cazuza, você gosta de ser tomada por um vento forte que passou?
- não. eu sou anti-moderna, gosto que me peçam pra ficar.