"você acredita em médico?! não! vai por mim, põe uma roupa bem bonita, entorna uns gorós de cachaça e vai lá se vingar dessa pessoa sim. agora!"

sexta-feira, 30 de abril de 2010

atrás do grito

- amo!
- não amo.
- "sem amor só a loucura". 
- se assim, saúdo a Deusa de Rotterdam! e em reverência prostro-me a pedir que seja meu esíprito acometido de toda potência desarrazoada, inebriado para todo o sempre nos meandros de seu desatino impiedoso, pois meus desejos superam os de Werther e Romeu. quero de todo o muito. - Antes louco do que pouco!

quinta-feira, 29 de abril de 2010

naquela sala



“Não sei se voltaria pra ele, não sei como seria. Não era mais aquela coisa.” Essa frase pronunciada com riso de meia graça, riso imaginativo, me fez fixar o olhar e os ouvidos ainda mais àquela que, dentre todas, parecia ter uma história singular a contar, até porque, dentre todas, ela era a mais singular. “Não sei se voltaria”, o verbo flexionava e dizia ele não estava mais e  talvez nem pensasse sobre essa ausência, mas ela pensava...acabara de pensar e talvez o fizesse a cada minuto a cada chute ou enjôo a cada roupa pequena demais a se acumular em pilhas no guarda-roupa a espera de um dia voltar, quem sabe, a se ajustar ao manequim ou a nova pessoa que se fará.
Ela estava na minha diagonal, em pé, vestia um casaco de lã, uma calça de tecido fino – um pouco larga para o seu corpo, mesmo que mais avantajado, e chinelos de dedo (pensei, talvez não houvesse sapatos a caber, costumam-se inchar os pés nesse período); num primeiro momento era sozinha, depois se acompanhou de uma mulher trinta e poucos anos mais velha, suponho, pela aparência. Todas naquela sala formavam fotografias parecidas, esperavam, quase sempre acompanhadas de um alguém mais velho do sexo feminino – a mãe, a avó, a sogra, a tia...uma guardiã, enfim. E conversavam. Conversavam entre si e também umas com as outras, trocavam experiências, davam conselhos, competiam dores, dilatações, cólicas, desejos. Ela, enquanto sozinha, se calava. Ninguém lhe perguntara sobre suas dores, sobre suas melhores posições, sobre seu cansaço. Quer sentar? Não. Isso também ninguém lhe sugeriu; mas ela o fez; uma cadeira próxima a minha vagou, então, tomou assento. Daquela posição eu não podia mais olhar. Até poderia, mas não com disfarces; antes olhava pra ela como quem olha o nada, mas o fazia querendo ver tudo, imaginava tudo, supra-imaginava. O que eu via? O estranho. Via alguém que ao chegar tomei pelo outro sexo; via agora uma mulher em desencaixe de forma. Veja só todas que aqui estão, todas magras, cuja condição não se pode esconder devido à secura do corpo a sustentar seu centro e à boa definição dos ossos, cujos cabelos se fortificaram e cuja pele se abrilhantou. Veja todas aqui...tão grávidas!
“Não era mais aquela coisa.”, e não era só uma coisa, era uma coisa com extensão da vogal “o”, era uma coisa enfática, grandiosa, uma coisa fora da coisa. Sublime, por certo, já que está para o indefinido como água está para o mar, já que verbo a ela não se faz jus, porém, muitos, derivados dela - dessa coisa, se faz conjugar: entropecer, desatinar, escapar, transcender, engravidar, abandonar, deprimir, MUDAR etc.
Então, eu me perguntei e olhei em volta tentando ver naquelas fotografias uma resposta sequer. Por que essas mulheres se deixaram tomar por essa coisa? Por um algo indefinido e efêmero, o qual só se sabe quando acaba, que pelo seu fim se tem uma parca noção do que talvez tenha sido ou do que talvez não; por um "it" que resguarda uma vertigem mínima do cognoscível  somente quando em comparação a uma outra versão desse mesmo "it" que também já se acabou. Por que de uma fração de tempo, sentida de uma forma-coisa, se faz o eterno?
Eu poderia ficar olhando a tarde inteira o plural daquela sala ou mesmo aquele singular que resposta nenhuma me seria dada. O meu tempo se havia  acabado, talvez se tivesse dado a perguntar conseguisse uma fagulha luminosa às minhas idéias, mas não o fiz. A bem da verdade, acho que elas só estavam ali, vivendo a sua condição. Como eu, esperavam, só que mais. Eu àquela sala não voltaria, elas sim.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

tem gente que não funciona sem encarte.



- nunca entendi essa coisa de alma gêmea, se encontro a minha, corro pra bem longe!

- (rs) acho que é por aí mesmo. não há noção mais falha do que esta! se é gêmea , ela tem as características que você menos suporta e mais conhece...as suas! imagina uma dose destas ao quadrado? não é de se admirar que, cedo ou tarde, venha uma vontade súbita de enforcá-la.

- o oposto complementar do capricorniano é o canceriano, sabia? quer coisa pior?!

- é, eu sei, e até gostei dos meus cancerianos, eram fofos, meigos, atenciosos...daquele  tipo que liga pra saber se você chegou bem. esse era um ponto muito positivo, eles não tinham ressalvas em demonstrar que se importavam. o problema é que acabaram se tornando bons demais para eu ter vontade de destruí-los... e eu não me movimento pacificamente, é sempre o conflito que me impulsiona.

- a velha mania de não procurar o caminho mais fácil...

- por certo! é a guerra que move o mundo.


- bigmouth strikes again.


- and now I know how joan of arc felt.

sábado, 17 de abril de 2010

“ i don't love you anymore. good bye!”


estado limite

estado de emergência

urgência

navegar é preciso!

viver é preciso!

para isso, renasço.

por entre tecidos mortos

por entre gosmas-sangue

por todo passado de sujeira de vida

por essa lama densa de rígido tempo

(assoreamento em camadas-self)

tábulas rasas do incerto

por essas peles sem poros

respiro, me vejo

desconheço.

reescrevo, do velho negado

um novo viver

que se renegará.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

na cama


- e como é o sexo com ela?
- uhn... é mais calmo.
- calmo?
- é...é mais lento. como se a gente estivesse se conhecendo naquele momento. a mão, por exemplo, parece pensar ao deslizar pelo corpo do outro, mesmo sendo esse um caminho já conhecido...as ações são menos instantâneas ou reativas.
- as da mão.
- ...é, também. o corpo todo responde de outra maneira e não é algo calculado, também não é só químico, é uma interação diferente. ali, há eu e ela. aqui, há isso. é menos voraz, entende?!  
- entendo. é como a sobremesa.
- ...exato. mas você sabe, né, por ser a última coisa, é sempre o gosto dela que fica na boca.
 - pode ser, mas o que importa se a fome sempre volta?

quarta-feira, 7 de abril de 2010

entre linhas

Transliterar
       mutar
 transcender
           senda
transveredar
       cessar
trans
        line
               ar
transumanar
        mana
transe
   transa
        versa
transversar.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

inside out

às vezes, confortável em minha solidão, vem o algo por dentro. não sei denominá-lo, só sei que é o corpo falando comigo. dessa vez, o peito. sinto um incômodo de como se quisesse expandir, respiro fundo para saciá-lo, prendo o ar tentando calar o arroubo dolorido. mas ele não é tolo, na experiência de corpo que lhe é própria, sabe que o ar é trânsito, que não lhe pertence. então, continua. esmurrando as laterais do seu limite, querendo espaço e ocupação. mais do que ocupação, querendo peso. o peso que não pode suportar.

inferno astral

te deslocar, desmintir
ser a tua negação é minha compulsão infantil,
e retrocedo
para rasgar teu vestido, bagunçar os cabelos
morder o teu braço
te humilhar.
eu esfrego no teu salto a merda da vida
mas você faz de conta.
então serei o monstro a te acuar mais e mais.
num canto espremer teu corpo franzino
tão pequeno e delicado.
eu vou te apresentar o medo
o vacilar dos músculos
eu vou te fazer trêmula, disforme
contorcida
suplicante
serei o teu único desespero, pulsão de morte
grito de liberdade