É certo que não se deve dizer a escrita, que ela - autônoma e outra – entidade sem identidade fixa, nasce, não do momento forçosamente espontâneo (o paradoxo que abriga dois seres incongruentes), mas do impuro e complexo impulso criador humano. Dito isto, criatura esta agora não imprimo, portanto não blasfemo, estou alerta. Somente coloco-me nesse instante vazio de acontecimentos, onde a mente o nada lê, e rejeita. Onde, na absurda brancura dos segundos, resolve escrever o que vê.
O que vê? Imagem alguma.
Insuportável!
Mas uma sobrevida vagueia solta pelo quarto, trata-se do besouro de asa atrofiada e vôo rasante; astuta, ela resgata o imperfeito de sua memória:
Soubesse eu desenhar, não estaria nesse pedaço de madrugada rabiscando letras sem sentido. Tivesse eu aprendido ponto e cruz, começaria agora uma bela colcha. Houvesse você insistido, esse pedaço de tempo seria cheio e barulhento.
Apresentasse hoje o “não” de amanhã e eu adormeceria.