"você acredita em médico?! não! vai por mim, põe uma roupa bem bonita, entorna uns gorós de cachaça e vai lá se vingar dessa pessoa sim. agora!"

quinta-feira, 8 de julho de 2010

o caso de P. Garcia (parte II)

"What gives what helps the intuition?
I know I'll know I won't have to be shown
The way home. And it's not about a boy
Although although..."

E foram repetidas noites. O igual a si. Contrariando a física e a matéria. 

Fatos sem fatos - A (des)memória. 

P. Garcia seguia no mesmo, não mais lembrar o porquê, instintivamente seguia no mesmo, mas ainda à margem. Nem ao céu, nem à carne. Tão animal, quanto humano, ou, talvez, nem tanto dos dois. Uma terceira constituição - autos? proto-? A máquina ou a mais simples forma de vida do planeta? Qual a distância entre os pontos? 

- Uma ação.

Sinal de vida que vem - a vontade. De súbito, acordara à ausência de cigarros. Pensou "triste é a condição deste que desperta ao algoz de um vício...", tragou o café frio, continuou "...mas fortuito foi o destino ao lhe fazer fraco para  poder sentir um sopro de vida".  Ceder ou não a vontade? Gostava da dor que ela causava, os sintomas - ansiedade, fome, transpiração - desejo, loucura. O ato de fala. Como expressar a vontade, como sanar a dor, se o insuportável se apresentasse? Desaprendera a falar há alguns dias, sem motivos clínicos evidentes a sua sabedoria. Apenas escrevia em seu caderno como de breve costume,  quando de uma frase ao fim do parágrafo saiu o último som, desde então, nada mais pôde pronunciar. Tomado de pavor [embora longe da forma histérica - um pavor receoso, cabe melhor ao esclarecimento],  porém com urgência, largou o lápis; ao caderno envolveu vários elásticos, dando-lhe uma forma cilíndrica; ao repará-la, lembrou dos tubos que  guardavam cartazes de filmes, com tanto zelo, em seu baú. Pegou um. De pronto e sem hesitar, era esse! um souvenir de passado perecido, por certo; rapidamente retirou o cartaz. Atirado ao chão, deixava à mostra  alguma  de sua parte: um casal deitado sobre o gelo. Colocou o caderno no seu interior, vedou as extremidades, abriu novamente o baú de madeira, cavou com as mãos por entre os pertences, e, achando o fundo, mergulhou o tubo. 

Embora suspeita, no íntimo sabia que se continuasse a escrever poria em risco outras capacidades. Até então, achava que a escrita era a única experiência de fora que poderia lhe atingir de sobremaneira.

A noite posterior revelaria o equívoco.